As barreiras físicas são importantes, pois elas determinam onde começa e onde termina uma propriedade ou uma zona de segurança.
Em contrapartida, sabe-se que as barreiras, em determinadas circunstâncias, podem ser transpostas. Isto é, podem ser facilmente “ultrapassadas”. Em alguns casos, a própria estrutura ou a aplicação errada é que facilita essa transposição.
Esse é, infelizmente, um dos erros mais comuns. E ainda, sequer tem relação com o nível tecnológico de uma solução ou a complexidade de um projeto de segurança.
Até porque, sem entender a fundo todos os aspectos de uma barreira física, não é possível aplicá-la corretamente.
Afinal, geralmente, as barreiras possuem a função passiva de retardar um invasor. Porém, elas só cumprem integralmente seu papel quando são projetadas e aplicadas corretamente, de acordo com as ameaças a serem enfrentadas.
É importante, dentro desse contexto, também entender que a função de uma barreira ou cercamento perimetral não é necessariamente evitar em absoluto o acesso indevido a um perímetro.
Mas sim, dificultar e retardar este acesso, por tempo suficiente para que outros sistemas e ações coordenadas entrem em ação, contendo a ameaça.
Análise de risco versus benefício por parte do invasor
O conceito de dificultar o acesso vai além do que imaginamos (dificuldade física em si), sendo mais complexo do que parece. Isso porque, todo invasor realiza sua própria “análise de risco x benefício”, antes de qualquer ação indevida.
Desse modo, quanto mais baixo o “risco”, mais alto o “benefício” para um invasor.
Partindo disso, se o invasor, ao analisar um perímetro qualquer, tiver a percepção de que a intrusão pode ser feita com relativa facilidade, ele automaticamente entenderá que este é um alvo potencial. Afinal, seu risco é baixo e pode valer a pena, mesmo quando o benefício não é tão alto.
Esse conceito foi proposto pela primeira vez em 1982, pelo cientista político James Q. Wilson e pelo psicólogo criminologista George Kelling, sendo chamado de “a teoria das janelas quebradas”.
A desordem (ou a percepção da desordem) retroalimenta a criminalidade, sendo posteriormente comprovada em estudos reais, mostrando que a sensação de “impunidade” (ou o “baixo risco”, na visão do criminoso) tem relação direta e proporcional à ocorrência do crime.
Estudos mais aprofundados levaram ao que conhecemos hoje como a teoria do triângulo do crime, com uma visão mais estruturada e a proposta da prevenção pela eliminação da oportunidade em cometer o crime.
Daí a importância de uma barreira bem dimensionada, com manutenção em dia e, principalmente, em plenas condições de uso, servindo para aumentar a percepção de “risco” do potencial invasor.
Isso não significa, necessariamente, que todas as barreiras devam ser visualmente ostensivas. Mas sim, que elas devem sempre ser dimensionadas de acordo com as ameaças a que estará exposta. Em outras palavras, devemos olhar para nossa barreira perimetral com os mesmos olhos de um potencial invasor.
Retardar o invasor é a diferença entre agir antes ou depois da invasão
Além do aspecto psicológico tratado logo acima, uma vez que o invasor decida prosseguir na tentativa de intrusão, muros, cercas, portões e outras barreiras precisam ser pensadas com o objetivo de retardar a ação pelo maior tempo possível, permitindo, assim, que as equipes de segurança atuem.
Afinal, retardar o invasor por tempo suficiente é a diferença entre agir ANTES ou DEPOIS de uma intrusão.
Esta resposta, ou melhor, “pronta resposta”, muitas vezes pode acontecer de maneira automática, como no caso dos sensores baseados em fibra óptica, que detectam o invasor. Veremos detalhes sobre essas possibilidades em um outro artigo.
Algumas barreiras são construídas de forma a atender requisitos de arquitetura, e não necessariamente de segurança. Assim, a utilização dessas barreiras pode facilitar a ação de criminosos. Alguns pontos de interesse a serem observados:
1. Muros
Utilizados para garantir privacidade e sensação de segurança, podem trazer complicações em alguns casos nos quais não sejam bem dimensionados.
Afinal, nem sempre possuem desempenho melhor do que barreiras mais simples, como cercas. Inclusive, diversas intrusões através de muros ocorrem com a sua quebra, onde rompe-se o muro com ferramentas para que possa ser atravessado.
Muitas vezes a quebra do muro é realizada em etapas, com os criminosos “descascando” o muro pelo lado externo e mantendo a camada interna intacta, sem dar qualquer indício da ameaça.
Em outras ocasiões, os muros são quebrados para criar plataformas, sendo comum a formação de um tipo de “escada” na parte externa, através de “buracos” que são então utilizados como apoio no momento da escalada. Também sem qualquer sinal visível internamente de que aquele trecho foi comprometido.
Mesmo nos casos em que uma “ronda perimetral” é utilizada, com um vigilante percorrendo o perímetro para analisar sua integridade, esta costuma ter eficiência limitada pois é conduzida somente pelo lado interno do perímetro. Isso impede que o vigilante identifique as ameaças acima citadas.
Como a transposição de muros por escalada é relativamente simples, a recomendação é que exista algum tipo de fechamento superior (ex: concertinas, treliças, arame farpado, entre outros). Isso constituirá uma barreira adicional ao invasor, dificultando e atrasando sua entrada, mesmo que este utilize escadas para facilitar a intrusão.
Atualmente, existem diversas alternativas de fechamento superior para que o impacto visual seja minimizado.
Muitas vezes o muro também cria uma barreira visual inconveniente para sistemas de CFTV, formando uma área de sombra para a visualização de perímetros externos (quando as câmeras estão posicionadas internamente, longe da barreira perimetral) ou demandando a instalação de câmeras diretamente sobre o muro, o que evita a área de sombra, mas deixa a câmera suscetível a depredação. Muitas vezes, o muro também cria uma barreira visual inconveniente para sistemas de CFTV, formando uma área de sombra para a visualização de perímetros externos (quando as câmeras estão posicionadas internamente, longe da barreira perimetral). Também pode demandar a instalação de câmeras diretamente sobre o muro, o que evita a área de sombra, mas deixa a câmera suscetível a depredação.
As intrusões podem também ocorrer através de escavações sob o muro. Portanto, outro fator de atenção é conhecer a condição de solo (solos arenosos podem ser escavados com mais facilidade do que solos rochosos) e atentar-se ao baldrame ou fundação do muro, para que este represente um obstáculo adicional à intrusão por escavações.
2. Grades e Cercas
Grades e cercas, tais como alambrados e gradis, representam grande parte das barreiras perimetrais utilizadas e são uma opção mais econômica aos muros, podendo ser projetadas para funcionar de forma tão – ou mais – eficiente que eles.
Nesses cenários, as ameaças mais comuns são escaladas, cortes/depredação ou escavação.
Escaladas podem ser dificultadas, utilizando-se os modelos de grade anti-escalada, disponíveis no mercado, e através de um fechamento superior, como treliças, concertinas, telas laminadas, entre outros.
Em intrusões por cortes, podem ser utilizados alicates ou serras para criar espaços ou “buracos” na malha da grade/tela, com aproximadamente 30cm a 40cm de diâmetro; É importante que a cerca possua fixações e esticadores apropriados para dificultar a intrusão, exigindo mais cortes, pois quando uma cerca está solta, sem tensionamento e fixação corretos, podem ser realizados cortes lineares em L (geralmente próximo a uma coluna ou mourão) permitindo ao invasor forçar a malha para dentro, facilitando a intrusão.
É também recomendado que a grade/tela seja fixada ao solo, de alguma forma, para evitar tentativas de intrusão por depredação ao amassar, dobrar ou tentar levantar a cerca (com ou sem ferramentas, como alavancas), o que pode facilitar a passagem por baixo.
Nas intrusões por escavação por baixo da cerca, as grades e alambrados geralmente apresentam uma desvantagem com relação aos muros, pois não costumam possuir estruturas como baldrames e fundações de concreto. Dessa forma, se faz necessária a utilização de ferramentas adicionais, como um cabo sensor enterrado, conforme abordaremos em outro artigo.
Uma grande vantagem deste tipo de barreira é que o ponto de visada continua livre, o que permite a instalação de câmeras no lado interno do perímetro – distante da barreira perimetral. Isso facilita o projeto de um sistema CFTV, evitando a instalação de equipamentos nos pontos mais críticos do perímetro.
Vale ressaltar, ainda, que cuidados devem ser tomados com grades ornamentais – geralmente rígidas – para que não possuam barras horizontais de sustentação. Caso contrário, servirão como plataforma para facilitar a transposição.
Porém, se a utilização destas grades for necessária ou elas já estiverem instaladas, deve-se utilizar ferramentas adicionais para garantir a segurança contra intrusões por escalada.
3. Áreas de Preservação Ambiental / Permanente (APA/APP)
Em muitos casos, a linha perimetral de uma organização faz fronteira com uma área de preservação.
Áreas de Preservação são áreas protegidas, geralmente com vegetação nativa, com a intenção de preservar os recursos hídricos, a paisagem e a biodiversidade.
Nesses casos, a legislação para a construção de barreiras tem diversas restrições, e quando a construção de um cercamento é possível, este deve seguir características obrigatórias, como:
- Ausência de eletrificação (para preservação da fauna local);
- Restrições à iluminação artificial;
- Altura mínima do solo para início da cerca (de forma a permitir a passagem da fauna);
- Em último caso, a proibição ou inviabilidade completa de construção de uma barreira perimetral.
Nesses cenários, é imprescindível consultar a legislação vigente para identificar quais os recursos permitidos e restrições a serem consideradas.
Mesmo nas situações mais difíceis, onde construir uma barreira física é inviável, existem alternativas para detecção de intrusões através de sistemas enterrados. É o caso do Fence Lite®, que cria uma barreira virtual, alertando imediatamente uma tentativa de intrusão, e opcionalmente disparando uma sirene em campo para alertar ao invasor que ele foi identificado.
No próximo artigo trataremos do 2º erro: utilizar as barreiras perimetrais somente de forma passiva.
Não perca!